segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O segredo dos aprovados: Plínio Oliveira (UFSC)

           

Plínio estuda Medicina na UFSC
            Como passar para Medicina? Muitos sonham acordado com o dia em que usarão um estetoscópio, terão seu próprio consultório e vestirão um jaleco com o nome bordado após a inscrição "Doutor(a)". Mas mesmo que devanear seja muito bom, ser aprovado em Medicina requer bem mais que isso. A primeira palavra de ordem é sacrifício (com, vá lá, algumas pausas para não se sentir esgotado). A dedicação deve fazer parte da vida de um vestibulando de Medicina. E isso não é novidade para ninguém, considerando que o curso é tremendamente concorrido. O problema é que toda essa dedicação deve ser bem direcionada. Não se trata apenas de estudar muito. Trata-se de estudar muito e estudar bem. Deve-se aproveitar bem o tempo a fim de conseguir transformar sonho em realidade. E quem revela para a gente os segredos da aprovação em Medicina são os próprios alunos que hoje a cursam. Preparamos uma série de entrevistas com aqueles que estão hoje realizando seu sonho (mas não sem ter, antes, se esforçado muito para isso).

            Confira hoje a entrevista com Plínio Oliveira Filho. Ele estuda hoje na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis. É uma das faculdades de Medicina mais renomadas do País. Além de revelar o que garantiu sua aprovação, Plínio versa de modo muito esclarecido sobre os problemas que a área da Saúde enfrenta hoje. O futuro médico também te leva para adentrar os portões da UFSC, contando como é o dia-a-dia na Faculdade de Medicina.

Por quanto tempo você estudou para Medicina? Qual era sua rotina de estudos?
Minha história com a Medicina foi bem complicada. Eu, primeiro, fui cursar engenharia mecânica. Fiz dois anos de mecânica e no fim larguei. Continuei, então, tentando Medicina. Consegui ir pro cursinho, pois no começo meus pais me apoiaram, mesmo que com pé atrás. Estudava no cursinho durante a manhã (e 2 tardes por semana também). Revisava o conteúdo em casa em forma de resumos rápidos. No entanto, o que foi essencial para mim era resolver exercícios, principalmente das provas que eu ia prestar. Não ficava resolvendo de lugares aonde não ia fazer.

Então você sempre focou na UFSC? Por quantas horas estudava sozinho, fazendo exercícios, nas tardes sem cursinho? E aos fins de semana?
 Não, meu foco era a UFSM. Mas eu fazia muitos exercícios da UFSC, porque planejava fazer ela e também porque a prova é muito completa e seleciona muito bem seus alunos. Eu estudava no máximo umas 5h por dia, algumas vezes 6h além do que eu estudava no cursinho, mas isso não era regra. Se eu via que não estava rendendo, eu parava e fazia outra coisa. Nunca estudei nos finais de semana. No máximo lia livros. Eu sempre reservei os finais de semana para mim.

Conseguiu passar no primeiro ano de cursinho? Qual foi a sensação de ter entrado para a Medicina da UFSC, que hoje, segundo a Folha, está entre as 20 melhores faculdades de medicina do país?
Não foi no primeiro ano. Em 2012 junto com a faculdade eu fiz um semestral e não consegui aprovação. Em 2013 eu me dediquei num curso anual e consegui lograr aprovação no final do ano na UFSC, UFRGS e UCPel. A medicina da UFSC é muito boa, principalmente na atenção básica e na cirurgia. Temos contato com o paciente desde o primeiro semestre. A partir do terceiro, temos semiologia médica (que é a base de toda clínica e da medicina), que geralmente só ocorre na maioria dos cursos entre o quarto e quinto semestre. É uma universidade boa, que tem alguns problemas como toda e qualquer pública, mas tem uma excelência de professores e de colegas incrível.

Sentiu dificuldades no início do curso? Deve ser complicado se adaptar a uma carga horária extensa. Os veteranos e professores te ajudaram com isso?
            Nem tanto. Pra quem já estuda pra medicina, e pra mim que vinha de um colégio integral e federal, além de ter estudado engenharia, não senti tanto assim a carga horária. Senti mais dificuldades na quantidade de coisa pra estudar, mesmo. Mas como a gente passa muito tempo em sala de aula, é impossível não estar estudando, mesmo que de forma passiva. Por fora a gente estuda também, mas não precisa ser exaustivamente, ao menos não até agora. Dá pra conciliar faculdade, vida pessoal e tudo mais numa boa. Pelo menos até agora estou conseguindo. Veteranos normalmente têm uma relação de ódio ou de amor contigo, vai depender de seu temperamento e de que tipo de pessoa você é. Geralmente eles nos dão dicas e materiais, como provas passadas e resumos, que ajudam muito. Professores são um departamento mais complicado, depende muito de cada um e de sua disciplina.
 
Vista aérea da UFSC
Como são as aulas práticas? Já teve que lidar, por exemplo, com cadáveres?
Até agora não tive tantas aulas práticas que não fossem de anatomia e alguma coisa que aprendi por conta própria. Em anatomia, lidamos com cadáveres desde o primeiro semestre. É necessário, pois nenhum modelo ou peça artificial substitui o corpo humano de verdade.

Você sempre quis ser médico? O que te levou à Medicina?
            Na verdade, não. Eu comecei a me interessar por Medicina na adolescência. Meus avós haviam ficado doentes (minha avó com câncer e meu avô com hepatite). Passei durante todo o ano de 2009 lidando com isso. Nesse ano, também fiquei doente com gripe A e rompi os ligamentos da mão direita. Foi aí que comecei a pensar mais em Medicina.

Você, então, lidou de perto com doenças muito cedo. Acredita que isso irá lhe ajudar no futuro, quando se formar?
            Eu espero que eu consiga sair um médico no mínimo atento a pessoas e não somente às suas doenças. Veja bem, o problema maior é que muitas vezes queremos tratar somente o problema das pessoas e não a elas. Isso é muito necessário. Uma pessoa não é um corpo com um problema a ser consertado, é um ser que tem consciência, sentimentos, história e anseios que precisam ser acompanhados e lidados pela pessoa que mais confia naquele momento: o médico.

Você toca num ponto importantíssimo e bastante discutido hoje em dia, que costuma ser genericamente chamado de "humanização da medicina". Acredita que os médicos de hoje, forçados a ter consultas cada vez mais curtas (em especial nos serviços públicos), tratam apenas das doenças - e esquecem de tratar do doente?
UBS em Saco Grande, Florianópolis
Eu acho o termo "humanização da medicina" idiota. A medicina é humana. O problema são as pessoas, que seriam os médicos ou os pacientes. Nos serviços públicos, não é regra o médico agir assim. Com uma desenvoltura e expansão maior da atenção básica (principalmente nas unidades básicas de saúde), por meio dos médicos da família e comunidade, esse panorama tem mudado. Eu acompanho muito essa realidade na rotina que tenho a cada duas semanas numa UBS em Florianópolis, no bairro do Saco Grande. Os médicos de hoje não são os mesmos de 50 anos atrás. A formação médica também não. Isso é natural e inerente do processo da academia, da universidade.

Mas ainda é realidade, em grande parte do País, a precariedade no serviço público...
Isso é muito do fato do mau investimento do governo federal na melhoria da qualidade física e de recursos humanos. Muitas vezes têm-se somente um médico para atender mais de 50 pacientes e isso satura muito o profissional. Lembrando, agora sim em humanização, que médicos ainda são seres humanos. Não são perfeitos, estão fadados a terem vícios e virtudes, fome, sede, sono e quaisquer outras características de pessoas que não são profissionais da saúde.

Leia outras entrevistas com os aprovados em Medicina clicando aqui

Um comentário:

  1. Amei essa entrevista, ela me encorajou ainda mais a não desistir de realizar o meu grande sonho, que é ser uma médica.

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