segunda-feira, 25 de junho de 2018

Oligoâmnio ou oligoidrâmnio

Um líquido, mil e uma funções

O protagonista deste artigo é um ingrediente crucial para uma gestação saudável - o líquido amniótico. Esse fluido atua durante toda a gestação como uma almofada aquosa, que recobre o o feto. Envolvido por esse amortecedor, o feto está protegido contra impactos. Como trata-se de uma substância estéril, que isola o feto do meio externo, protege-o contra infecções.

Também é um isolante térmico, permitindo a manutenção da temperatura ideal para o feto. Além disso, o líquido amniótico também permite a movimentação corporal - o que garante o desenvolvimento dos músculos do feto.

Tem mais: esse fluido também é crítico para o desenvolvimento do sistema pulmonar do concepto. Ao ser inspirado, o líquido amniótico provoca a distensão das vias aéreas em formação. Também contém prolina, um aminoácido fundamental para a construção de colágeno e, portanto, de tecido conjuntivo.

Funções do líquido amniótico
Proteção contra: variações térmicas, impactos, infecções, compressão do cordão umbilical
Garante o desenvolvimento: dos sistemas muscular, gastrointestinal e músculo-esquelético 

Com tantas funções importantes para a proteção e desenvolvimento do feto, não é surpresa que a redução do volume de líquido amniótico - o oligoâmnio ou oligoidrâmnio - pode ser um problema. Relativamente comum, alguns autores apontam que ocorre em 3% a 5% das gestações no terceiro trimestre.



Diagnóstico de oligoâmnio
O oligoâmnio pode ser suspeitado pelo médico, na prática clínica. Alguns sinais de alerta para suspeitar de oligoâmnio são: útero pequeno para a idade gestacional, na palpação obstétrica; fácil reconhecimento das partes fetais pela palpação obstétrica; mãe que relata história de perda de líquido via vaginal ou de redução da movimentação fetal.

Contudo, deve-se confirmar esse diagnóstico por meio do exame ultrassonográfico. Através de imagens de bolsões de líquido entre a parede uterina e as partes fetais, o ultrassonografista consegue determinar se o volume de líquido amniótico está adequado.

Oligoâmnio grave

Um dos critérios, usados quando o fundo uterino não ultrapassa a cicatriz umbilical, é a medida do maior bolsão de líquido no diâmetro vertical. Se essa medida for menor que 2 cm, há oligoâmnio. O normal é de 3 a 8 cm.

Mais comumente, utiliza-se o ILA, o Índice de Líquido Amniótico. É o método mais indicado quando uterino ultrapassa a cicatriz umbilical. Para essa medida, divide-se o abdome materno em quatro quadrantes e somam-se as medidas do maior bolsão vertical identificado em cada um dos quadrantes. Em resultados menores que 5 cm, temos o diagnóstico de oligoâmnio. O normal é de 8,1 a 18 cm.

Nos casos mais graves, em que o líquido amniótico é muito escasso e não é visualizado na ultrassonografia, chama-se anidramnia ou adramnia.

Causas de oligoâmnio

Anomalias no sistema urinário do feto
Várias condições levam ao oligoâmnio. Quando o diagnóstico é feito precocemente, já no segundo trimestre de gestação, geralmente está relacionado com anomalias no sistema urinário do feto. Por exemplo, na agenesia renal bilateral (ausência dos rins), na doença renal policística (ocorrência bilateral de cistos renais) e em obstruções urinárias baixas ou bilaterais.

Como o volume de líquido amniótico depende da produção fetal, através da eliminação de urina na cavidade amniótica, essas condições levam a um quadro de oligoâmnio.

Insuficiência placentária grave

O oligoâmnio também pode estar associado à insuficiência placentária grave, em que há importante restrição do crescimento fetal. A oferta de oxigênio e nutrientes é tão pouca que a irrigação dos órgãos nobres (como o cérebro, coração e adrenais) são priorizadas em detrimento da perfusão renal e pulmonar.

Com menos sangue chegando nos rins e nos pulmões, ocorre menor produção e eliminação do líquido amniótico por tais órgãos. Pode ser tão grave a ponto de levar a compressão do cordão umbilical, sofrimento fetal e, em casos extremos, óbito fetal.

Pós-datismo/gestação prolongada
Nas gestações prolongadas, ocorre um declínio da função placentária - o que, como visto acima, pode levar à redução do líquido amniótico. Não é à toa que o oligoâmnio (ILA menor ou igual a 5 cm) é detectado em 11,5% de mulheres com 41 semanas de gestação ou mais. A partir da 41ª semana, nota-se uma redução de 25% do ILA por semana.

Medicamentos
A exposição materna a algumas drogas pode levar ao oligoâmnio. O uso de medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e dipirona após a 30ª semana de gestação está associado com risco aumentado para oligoâmnio. O efeito é atribuído ao bloqueio da síntese das prostaglandinas, que tem ação vasodilatadora, sendo importantes para a manutenção do fluxo sanguíneo renal durante a ida intrauterina.

Rotura prematura das membranas ovulares
Corresponde a metade das causas de oligoâmnio no segundo trimestre, segundo Rezende.

Consequências do oligoâmnio
Quanto mais precoce e persistente for o oligoâmnio, piores as consequências para o feto. Um dos desfechos graves é a hipoplasia pulmonar. Como o líquido amniótico permite a expansão das vias aéreas, sua ausência pode comprometer o desenvolvimento pulmonar. Isso pode levar à morte - daí um risco de óbito perinatal aumentado.

A literatura também descreve a síndrome de Potter - um fenótipo característico que é causado pela pressão exercida pela parede do útero no feto. A falta de líquido amniótico promove uma fácies típica, a fácies de Potter - caracterizada por olhos muito separados, com pregas epicânticas, micrognatia, baixa implantação das orelhas.

Tratamento do oligoâmnio
O tratamento depende da causa primária do oligoâmnio.

A prioridade é a manutenção da vitalidade fetal. A resolução da gestação é uma opção em alguns casos: por exemplo, oligoâmnio grave (ILA menor que 3 cm), também em casos em que há sofrimento fetal. Indica-se a resolução da gestação também em situações de oligoâmnio com maturidade pulmonar fetal comprovada, ou após 37 semanas de gestação. A regra de ouro é pesar os riscos de sofrimento fetal contra os da prematuridade.

Em situações de desidratação materna grave, a reposição volêmica garante um aumento do ILA. No entanto, ainda não está bem estabelecida a eficácia do método de hidratação materna para o tratamento do oligoâmnio. Obviamente, não será útil em todos as situações, como na agenesia renal bilateral.

O papel terapêutico da amnioinfusão requer mais comprovação.

Referências
Rezende obstetrícia fundamental/Carlos Antonio Barbosa Montenegro; Jorge de Rezende Filho. – 13. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

Zugaib Obstetrícia - editor: Marcelo Zugaib - 2ª edição - Barueri, SP: Manole, 2012. 

2 comentários:

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