A anemia falciforme é uma doença hereditária,
monogênica, autossômica recessiva.
Mutação
genética
A doença desenvolve-se a partir de uma
alteração na codificação do gene da hemoglobina. A partir dessa mutação, é
produzida uma hemoglobina com prejuízo em sua função de carregar oxigênio aos
tecidos.
Em específico, a
alteração molecular primária é a substituição de uma única base nitrogenada
(adenina por timina) no códon 6 do gene da globina beta, que compõe a estrutura da hemoglobina. Devido à essa mutação, nos desdobramentos da síntese proteica da hemoglobina, há a substituição do aminoácido ácido glutâmico (naturalmente presente) por valina.
Polimerização da hemoglobina
A consequência final é
a produção de uma hemoglobina anormal (chamada HbS). Essa proteína anormal, quando está
na forma desoxigenada, isto é, sem carrear oxigênio, é relativamente insolúvel. Tende a se agregar (unir-se
por ligações covalentes), formando longos polímeros, no interior das hemácias.
Falcização das hemácias
Isso altera a forma do eritrócito, de disco bicôncavo, para o de uma foice. Também reduz
acentuadamente a deformabilidade da hemácia. A alteração também pode promover
lesões em suas membranas. Daí, mesmo quando a hemoglobina é reoxigenada, os
eritrócitos podem reter o formato anormal, denso e rígido.
Vaso-oclusão
Essas alterações
morfológicas (falcização das hemácias) contribuem para a vaso-oclusão na
microcirculação. Isso gera isquemia, reperfusão e também dano às células
endoteliais. Também há hemólise e liberação intravascular de hemoglobina.
Hemácias em formato de foice ocluindo vasos |
Todos esses danos engatilham respostas inflamatórias vasculares, com estresse oxidativo, expressão de proteínas com função adesiva (integrinas, por exemplo), liberação de fatores procoagulantes e vasoconstritores. Há ativação leucocitária e elevação dos níveis de citocinas, TNF-alfa e PCR. Essa cascata contribui para a redução do fluxo sanguíneo aos tecidos.
O resultado final é a
adesão de hemácias, leucócitos e plaquetas ao endotélio e à parede vascular,
reduzindo o fluxo sanguíneo e, portanto, levando à vaso-oclusão e isquemia
tecidual. Em resumo, a anemia e, principalmente, a oclusão vascular são
responsáveis pelas manifestações clínicas da doença: fadiga, atrasos no desenvolvimento e hipóxia tecidual.
Referências:
ZAGO, MA; FALCÃO,
RP; PASQUINI, R. Tratado de Hematologia.
1ª ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2013. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=1682842
ZAGO, MA; PINTO, ACC. Fisiopatologia
das doenças falciformes: da mutação genética à insuficiência de múltiplos
órgãos. Rev.
Bras. Hematol. Hemoter. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/rbhh/v29n3/v29n3a03.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário