O
aumento do interesse em "cosméticos para o cérebro", isto é, o uso de
certas drogas por pessoas sem problemas neurológicos a fim de melhorar suas
habilidades cognitivas, trás consigo várias questões éticas. A medicina deveria
ser usada para melhorar a qualidade de vida tanto daqueles que são saudáveis
quanto daqueles que estão doentes?
Poderíamos
argumentar que o uso de drogas para "turbinar o cérebro" é uma
progressão natural no desenvolvimento do homem. As pessoas já tomam suplementos
concentrados em óleo de peixe, que são constantemente anunciados como amigos do
cérebro. Estudantes e profissionais que trabalham, enfrentando longas jornadas,
consomem comprimidos e bebidas contendo cafeína para afastar o cansaço. Será o
uso dessa nova geração de drogas o próximo passo?

O
que seria melhor: ser operado por um cirurgião sem dormir há 24 horas ou por um
que usou uma substância para ficar alerta (e, de acordo com estudos científicos,
mais eficiente)? Qual é o melhor cenário: um acidente com um avião militar,
porque seu piloto estava fadigado demais para operá-lo eficazmente; ou nenhum
acidente, pois o piloto havia tomado um comprimido de Stavigile para se manter
acordado?
Uso do remédio em competições
Mas
o uso dessas drogas vai além. A grande polêmica está no uso por aqueles que
querem competir em áreas como o estudo e o trabalho. Com nossa transformação
numa "sociedade 24 horas", o Stavigile seria uma maneira de lidar com
a sobrecarga e as pressões. É uma tendência que acompanha o estilo de vida que
muitas pessoas levam nas grandes metrópoles. Num ambiente globalmente
competitivo, alguns indivíduos sentem que não podem se dar ao capricho de
perder tempo – nem que seja para dormir. Isso talvez explique porque tantas
pessoas se voltam para soluções rápidas como o Stavigile.
É
claro que não há almoço grátis. Na última matéria, vimos a descrição de efeitos colaterais diversos. O Stavigile tem sido usado há pouco tempo e,
segundo especialistas, não há como saber quais são seus efeitos a longo prazo. O
uso do Stavigile é proibido por menos de 18 anos, exatamente porque estes são
os mais vulneráveis a possíveis efeitos colaterais, uma vez que seus
cérebros ainda estão em desenvolvimento. No entanto, jovens são um dos que mais
se interessam pela droga, pois estão enfrentando a pressão dos exames
vestibulares. Vale a pena arriscar a saúde para conseguir uma aprovação? E,
mais ainda: e se for comprovada certa margem de segurança para o Stavigile a longo prazo, em
pessoas saudáveis? O remédio deveria então, ser liberado, para o uso daqueles dispostos a enfrentar os efeitos já conhecidos?
E
aí entra outra questão: pessoas saudáveis que fazem uso dele estão
trapaceando? A competição com aqueles que não fizeram uso de remédios, numa
situação como um vestibular e um concurso, seria desonesta? É possível chamar
isso de doping intelectual? Perguntamos aos entrevistados que tomaram o Stavigile, da última matéria, o que eles pensam sobre isso.
"Antes da prova
acontecer, vale tudo", diz Paulo Felipe, quando perguntado se o uso do
Stavigile seria errado. "Se você criar uma maneira eficiente de estudar e
adquirir conhecimento, é válido. Mesmo que seja radical. As regras dos editais
são claras: faça a prova sem colar, etc... O edital não pode interferir no
método de estudo usado. Estamos lá para provar que o método é eficiente,
independente de ser algo pouco acessível".
Diego também concorda com ele: "Desde que sejam claros os riscos de usar
tais substâncias como o modafinil, não vejo maiores problemas". Mas ele,
que usa sob prescrição médica, adverte que não é para qualquer um: "Nem
todos aguentariam tomar o Stavigile. É extremamente necessário ter a
consciência de que essa medicação não substitui o sono e descansos naturais. E
essa consciência normalmente só é criada a partir da consulta médica".
Lívia também não considera o uso imoral: "Não considero errado. Cada um
tem seu método de estudo. Alguns podem pagar cursinhos de pré-militar,
pré-vestibular e se preparar melhor, mas e uma pessoa que não pode? Havendo
outros caminhos, com custo baixo e efetivo, acho válido. Claro que sair usando
uma medicação indiscriminadamente também é algo que não é muito saudável, mas
cada um vai pelo caminho que pode seguir", ela opina.
Marcos, que se arrepende de ter usado, diz que é melhor ficar só no café:
"Você só engana seu
corpo! Tome um cafézinho, durma bem, se alimente bem, faça algum exercício
físico e estude num ambiente tranquilo. Assim, você conseguirá estudar da mesma
forma sem machucar seu corpo".
De fato, o cafézinho é o método artificial mais seguro ao lidar com nossa transformação numa sociedade
24 horas. Por enquanto, os únicos ingredientes comprovadamente seguros para a
saúde mental são uma boa dieta, exercício físico e uma noite de sono
revigorante.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir