O
nome "xantina" pode até parecer estranho para quem nunca o viu antes, mas é quase impossível que
você nunca tenha consumido um dos derivados dela. Antes de falarmos das fontes de xantina, aqui vai um pouco de química. A xantina e seus derivados são formados pela
junção de uma pirimidina (um anel aromático com dois heteroátomos, que são de nitrogênio) e um grupo imidazol (um anel também com ressonância e dois átomos
de nitrogênio, mas com um total de 5 átomos no anel). Essa junção peculiar forma uma purina. A estrutura da xantina
está representada na imagem abaixo.
As purinas são na verdade, pirimidinas unidas à um grupo imidazol |
Uma
nota: purinas e as pirimidinas também podem soar estranhos, mas tais compostos são extremamente comuns. Na verdade, são tão comuns que eles constitutem seu código
genético! A adenina e a guanina são purinas; enquanto a citosina, timina e
uracila são pirimidinas. As quatro primeiras estão na constituição do DNA. O
ATP, a famosa moeda energética usada por nossas células, tem adenina (e,
portanto, uma purina) em sua composição.
Voltemos
à xantina. A partir da metilação (adição de radicais –CH3) à xantina, podemos
obter compostos bem conhecidos. A cafeína, encontrada em grande quantidade no
café; a teofilina, encontrada em especial nos chás de Camellia sinensis (entre eles, o chá
verde e o chá preto); e a teobromina, encontrada principalmente no chocolate,
são exemplos de metilxantinas.
Observe
acima como a estrutura básica delas é semelhante. A cafeína possui três grupos
metil presos aos anéis de sua estrutura, enquanto a teofilina e a teobromina
possuem apenas dois, mas em posições ligeiramente diferentes. São pequenas
diferenças estruturais, mas que, no fim das contas, tem efeitos fisiológicos
bem distintos.
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A cafeína e outras metilxantinas são capazes de se encaixar nos receptores para adenosina e gerar um efeito antagônico |
Por
ser tão parecida, as metilxantinas conseguem se encaixar nas proteínas de
membrana que recebem a adenosina. Mas as xantinas funcionam como uma irmã gêmea
do mal: ao se encaixar nesses receptores, elas antagonizam a adenosina. Assim,
elas produzirão efeitos justamente opostos ao da adenosina. É usando um
"disfarce" de adenosina que as metilxantinas conquistaram toda a
população mundial, de uma forma ou de outra.
Cafeína
Já traduzi um artigo com mais detalhes sobre a
cafeína aqui nesse blog. Para dar uma olhada, clique aqui. Falemos um pouco sobre ela: uma xícara de café
média contém cerca de 100mg de cafeína, o que é suficiente para sentir seus
efeitos (o tipo expresso tem mais cafeína). Uma lata de Red Bull tem somente
80mg de cafeína. A Anvisa permite que suplementos alimentares e bebidas contenham,
no máximo, 420mg dessa substância por dose. Para os que sempre falam mal da Anvisa, esse valor é até mesmo considerado alto. 420mg de uma só vez é capaz de causar muitos efeitos indesejáveis, como será discutido mais a frente.
A
cafeína tem um efeito muito grande no sistema nervoso central. Ao bloquear os
receptores de adenosina, aumenta a velocidade de liberação de outros
neurotransmissores – contribuindo para a sensação de vígilia e atenção.
Acontece que o hipotálamo interpreta isso como um estado de emergência e, no
fim das contas, faz com que haja a liberação de adrenalina e noradrenalina.
Assim, o ritmo cardíaco aumenta e, com isso, há vasodilatação das artérias que
irrigam o músculo cardíaco e, para ajudar numa possível "luta" que o
cérebro pensa ser iminente, outros músculos também são mais irrigados. No
entanto, com a cafeína, as artérias que irrigam o cérebro sofrem uma mínima
vasoconstrição. Por isso, a cafeína é usada em alguns medicamentos para dor de
cabeça. Nos casos em que a dor de cabeça está sendo causada pela dilatação dos
vasos sanguíneos na região do cérebro, a cafeína será eficaz.
O
excesso de cafeína (e eu creio que se o objetivo for apenas disposição, 420mg é um excesso) pode causar tremores, nervosismo, agitação, ansiedade,
insônia e uma grande lista de efeitos indesejáveis. Ainda assim, um envenamento
fatal é improvável, se não impossível: estima-se que 10g de cafeína pode causar a morte. É claro que dificilmente alguém irá virar 100 xícaras de café e chegar a esse ponto!
Teofilina
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Observe à esquerda, uma via aérea normal na árvore brônquica. À direita, a inflamação da parede causa contração do músculo e liberação de muco. Isso causa dificuldades para respirar |
É encontrado no
chá feito a partir da folha das árvores Camellia
Sinensis – o chá verde e o chá preto são os mais conhecidos. Ela também
estimula o SNC bloqueando os receptores de adenosina, mas tem um efeito menor
que a cafeína. Na verdade, sua ação mais acentuada é no tecido muscular liso
que reveste os brônquios e bronquíolos. Na asma, a passagem de ar é dificultada
por um estreitamento ou obstrução nas vias respiratórias. Isso ocorre por causa
de uma inflamação que causa a contração da musculatura lisa na parede brônquica.
A teofilina é usada para prevenir crises de asma, pois relaxa a musculatura
lisa. Assim, o ar não encontra grandes obstruções, melhorando dessa forma a
função pulmonar. Seu efeito é lento (mas prolongado) e, por isso, não serve como broncodilator potente nas crises de asma. São, como foi dito, excelentes para a prevenção delas. A teofilina está presente em cápsulas contendo até 300mg no
medicamento "Talofilina", da Novartis, por exemplo.
Teobromina
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A Theobroma Cacao é muito cultivada no sul da Bahia |
Está
presente no cacau em quantidades até oito vezes maiores que a cafeína e, por
isso, no chocolate, seus efeitos são ainda mais nítidos. Seu nome vem de theos, que significa "deus" e broma, que significa
"alimento". A árvore com os frutos do cacau recebe o nome de Theobroma cacao. Ou seja: o chocolate
seria o "alimento dos deuses"!
Os
efeitos da teobromina são os mesmos da cafeína, mas são até dez vezes mais
fracos. Ela é eliminada muito mais rapidamente, aumentando a produção de urina.
Na medicina, nos casos em que a insuficiência cardíaca resultou na acumulação
de fluidos, a teobromina é usada. Ela também tem evidente efeito vasodilatador,
sendo usada para aliviar a pressão alta.
No
chocolate amargo, há altos níveis de teobromina – cerca de 528mg/100g.
E então: café, chá ou chocolate? Comente aqui!
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Tem algum artigo sobre a teofilina?
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