"A sensação é a mais perfeita e indescritível possível. Só não passa em Medicina quem desiste", diz Wesley André.
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Wesley André dá dicas para quem quer estudar em casa, sem cursinho |
É clichê dizer que nem sempre conseguimos aquilo que desejamos (ainda mais quando o assunto é o vestibular de Medicina). Mais clichê ainda é dizer que, apesar disso, é tentando quantas vezes for preciso, atingimos nossos sonhos (e todas as variações disso: "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura", "tudo no tempo de Deus", "não era para ser esse ano, mas não desista!). Se você tenta Medicina, pode estar cansado de ouvir isso tudo. Mas, por mais que seja repetido exaustivamente ao ponto de perder o significado, a sabedoria popular mostra-se correta. E, em especial para os futuros médicos, as frases de efeito podem ser provadas por histórias reais.
Conheça hoje a do Wesley André Souza. Ele é um grande exemplo de perseverança e de paciência, virtudes que devem fazer parte de cada um que quer ser médico. Ele foi aprovado na UFSC, cujo curso de Medicina figura entre os 20 melhores do Brasil. Também foi aprovado na PUC do Paraná. Mas todo o sucesso não teria sido possível sem o empreendimento de muito esforço. E, no caso dele, foram quatro anos de esforço. E o mais incrível: no melhor estilo "cursinho no quarto", ele teve a coragem de ser um autodidata. Após três anos e meio recebendo ajuda de professores, Wesley resolveu estudar sozinho. E foi aí que chegou seu sucesso. Além de dar dicas preciosas para quem quer passar em Medicina, Wesley conta como é possível ser aprovado sem usufruir de um cursinho. Leia a entrevista com ele abaixo:
Entrevista
Como
você se decidiu por Medicina? Por que escolheu esse curso?
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Wesley, futuro médico, também é autor de livros |
Então, a minha história de o
porquê medicina começou quando meu primeiro sobrinho nasceu em 2006 – estava no
primeiro ano do ensino médio. Eu adorei toda a assistência que minha cunhada
recebeu do seu obstetra e decidi que queria ser médico. Porém, o desejo foi
suplantado por minha covardia no terceiro ano. Nunca achei que pudesse ser
aprovado em medicina e a concorrência me causava arrepios (risos).
Naquele ano
prestei engenharia civil na UFPR. Em 2011 voltei com tudo e comecei a fazer
cursinho no Positivo. Eu escolhi a profissão porque com ela poderia ajudar
muitas pessoas. Afinal, o contato com o ser humano é muito grande na profissão – eu quero ter o prazer de um dia receber um aperto de mão de gratidão de um
paciente recém-tratado por mim e saber que isso foi graças a minha decisão de um
dia ser médico.
Você
estudou no cursinho por certo tempo. Por que desistiu desse método de
estudo?
Eu estudei por três anos e
meio no cursinho. Não tinha quase nenhuma base de estudos, não sabia o que era
uma eletrólise e muito menos as leis de Kepler e Cia. Tive um choque de
realidade ao começar o meu primeiro extensivo. Adquiri uma excelente base de
conhecimento com os anos que passei lá dentro – cresci como candidato e como
pessoa.
Mas chegou uma hora em que me saturei do cursinho, e de todos os
professores e de suas piadinhas repetitivas. Isso aconteceu no primeiro
semestre de 2014 (na época da copa) – o calendário e horários de aulas ficaram
uma loucura; aulas normais aos sábados, simulados aos domingos e etc.
Simplesmente não aguentava mais a “lentidão” e detalhamento dos professores
para explicar a matéria que já dominava bem – esse é um mal recorrente daqueles
que estão vários anos no cursinho.
Conversei com minha mãe (que pagava
o cursinho) e pedi autorização pra estudar sozinho e com a ajuda da internet.
Já sabia que eu conseguiria manter um cronograma ativo de estudos, afinal, me
considero uma pessoa responsável e tinha certeza que lutaria de qualquer forma
pra alcançar a minha aprovação no curso.
Em sua opinião, quais são as vantagens e as desvantagens de um cursinho?
As vantagens de fazer um cursinho são
várias: fortificar ou mesmo adquirir uma base de conhecimento, cuidar do
calendário de provas e revisões dos alunos, criar nos alunos uma rotina de
estudo e disciplina.
Quais
são os desafios de estudar em casa? Qualquer um é capaz de fazer isso?
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"Qualquer um pode estudar sozinho, se houver comprometimento", diz Wesley |
O desafio de quem vai estudar
sozinho já começa no princípio de estudar sozinho. Afinal, isso exige maior
disciplina do vestibulando.
Outro desafio a ser enfrentado é a escolha de bons
materiais de estudo – seja online ou físico. Esse vestibulando não deve pegar
qualquer livro por aí, já que muitos se encontram desatualizados e sem
explicações consistentes e didáticas. Se ele não tiver condições financeiras
pode procurar uma biblioteca de escola ou aquelas municipais e ver se eles não
têm alguns livros para doação – ou mesmo procurar em sebos.
E outro desafio
perpassa a grade de horários e rotina que o candidato irá seguir. Eu recomendo
que ele monte de antemão um calendário com todas as provas que irá fazer,
revisões e afins. Mas, por favor, seja flexível, não quer dizer só porque você
marcou na sua agenda que no dia 15/julho irá fazer um simulado que não pode ir
ao cinema ou fazer outra coisa (tudo isso vai depender de como estará se
sentindo no dia – a flexibilidade é tudo).
Qualquer um pode, sim, estudar
sozinho desde que tenha vontade de aprender, comprometimento com sua vaga
(afinal, ela depende quase que exclusivamente de você). É esse comprometimento
que deve tirar o aluno da cama às 07h30 da manhã em plena segunda-feira chuvosa
para estudar. Moral da história: se você
deseja, você luta e você alcança!
Como era ser um autodidata?
Ser autodidata é algo
imensurável. É muito legal você poder aprender a oxidação enérgica ou mesmo
número complexo apenas lendo e praticando sem qualquer monitoria, e etc.
Quais as ferramentas você utilizava para suprir a falta de um professor?
Eu
assinei o Descomplica, Química em ação, Biologia Total e assistia a vídeo aulas
no Youtube, acompanhava a resolução de exercícios. Aqueles que eu não conseguia
resolver, fazia o seguinte: jogava o começo do texto da questão
no Google e encontrava as resoluções. Aproveitava que tudo estava pronto e bem explicado para aprender mais.
A redação eu escrevia e enviava para o Descomplica
corrigir, até ano passado eram duas por mês. A melhor ferramenta que a
humanidade moderna nos concedeu foi a internet. Ela deve ser o melhor amigo de
um vestibulando que estuda por conta própria. E não ter acesso a ela não pode
ser mais uma desculpa – temos espalhados em várias cidades computadores
comunitários, se o candidato não tiver acesso à internet em casa.
No final de
outubro, eu contratei um professor e fechei com ele um pacote com 10 aulas
particulares de matemática/física/química para sanar as minhas dúvidas mais
urgentes.
Qual
era sua rotina de estudos?
Bem, a minha rotina de quando
estudava sozinho em casa era bem complexa e ao mesmo tempo flexível. Eu montei
um calendário detalhado com datas para revisar, estudar cada módulo das minhas
apostilas e meus simulados – fiz 16 ao longo do ano (fica aí outra dica:
simular muitas vezes o tempo e resoluções de vestibulares).
Eu acordava às
07h30 da manhã, tomava café, e começava a estudar às 08h em ponto (salvas
algumas exceções de quando eu acordava com muito sono e começava a estudar lá
por 09h/09h30. Mas compromisso é compromisso... quando isso acontecia eu
estendia mais o meu tempo de estudo).
Eu estudava das 08h até às 12h30, depois
voltava às 14h e ia até 21h, com duas pausas entre esse último horário. Fazia
isso de segunda à sexta, odiava estudar no sábado, por isso usava-o para
revisão.
Na reta final das provas eu estudei de segunda a segunda (daí, estendi
o meu horário durante a semana até às 23h, no sábado e domingo, estudei de
manhã até o fim da tarde), o que de fato me cansou, mas só segui esse
cronograma porque eu estava na reta final. Não faça isso desde fevereiro,
ninguém aguenta esse ritmo até dezembro.
Eu lia o G1 todas às manhãs e fazia
uma ficha-resumo com tudo que eu tinha lido para revisar semanalmente e também
usar na reta final. E valeu muito a pena ter lido os noticiários e ficar
antenado com o que estava acontecendo no Oriente Médio e crise da Ucrânia –
afinal havia duas questões inteiras de somatória no vestibular da UFSC/2015
sobre eles (acertei-as integralmente porque decidi acompanhar o jornal).
Então, dica de seu futuro colega de profissão: leia todas as atualidades do
Brasil e do mundo. O simulado eu considero vital, devido à capacidade de
simular o momento real de prova, onde o nervosismo, o medo, o descuido do tempo
pode nos atrapalhar. Eu perdi dois anos de vestibular por causa da falta de
simulados. Por esta razão, treinei muito no meu último ano de preparação.
Qual é a sensação de ter visto
seu nome na lista de aprovados?
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"Sensação indescritível", diz Wesley, sobre sua aprovação em Medicina |
Meu Deus! A sensação é a mais
perfeita e indescritível possível. Nestes quatro anos de cursinho e estudos eu
já obtive várias aprovações em federais pelo SISU como em Direito, Jornalismo, Engenharia Mecânica e outros. E em todos esses momentos eu fiquei feliz, porém,
nada chegou perto da hora em que eu abri a lista de aprovados de Medicina do
vestibular UFSC/2015 (no dia 14/janeiro) e pude ler o meu nome completo e meu
número de inscrição naquele listão. Eu pulei. Eu gritei. Eu chorei. Eu abracei
a minha mãe, que estava perto de mim no momento. Eu só consegui soltar o grito
de alegria: EUUU PAAAAASSEIIIII, GLÓRIA A DEUS! Até hoje eu vejo meu nome lá e
não acredito que fui aprovado numa FEDERAL.
Passar em Medicina é inacreditável!!
Hoje, dia 24/jan, realizei a minha matrícula online (primeira etapa do
processo) e vi a seguinte afirmação: “Eu,
Wesley de Souza, acadêmico do curso ... Medicina (integral) ...” – isso me
encheu de alegria e pude ver que realmente havia passado no curso mais liindoo
da vida (risos) – brincadeira. Acho que só uma coisa vai me encher mais de
alegria do que isso, pegar meu filho no colo pela primeira vez (se eu tiver
algum).
Qual é a mensagem que você deixa
para aqueles que, assim como você, escolheram Medicina e agora buscam uma vaga
nas universidades brasileiras?
NUNCA DESISTA! NEVER! NEVER!
NEVER! A sensação de saber que você vai começar a estudar o curso que sempre
sonhou, acreditou (mesmo desacreditando algumas vezes) e lutou por muitos anos
adentro é o que restará para sempre diante de seus olhos.
Este momento é o de
refletir sobre algum insucesso no ano passado ou mesmo refletir sobre como será
se aventurar no vestibular do curso mais concorrido do país não poderá se
igualar a alegria de assinar seu nome na matrícula da sua faculdade de Medicina
desejada.
E digo algo para quem ainda não tem nenhuma experiência com o
vestibular de Medicina: haverá horas em que você irá, sem dúvidas, desanimar,
outras em que verá alguém da sua turma que não estuda tanto quanto você passar
e se sentirá o pior aluno do mundo. Entretanto, coloque algo na sua cabeça: sua
vaga de Medicina existe, ela está lá te esperando no momento oportuno. Nada vem
antes do tempo de Deus para as nossas vidas (Eclesiastes 3).
Agora aos meus
colegas já calejados, com muito sangue nos “zóios” – emprestando os bordões do
professor Jubilut: seus anos de cursinhos não foram jogados fora como pensamos
às vezes, eles estão se impulsionando para o alto. O que seria do terceiro
andar sem o térreo, o primeiro e o segundo andar? O que seria da vitória sem as
derrotas? Espero te encontrar um dia pelos corredores dos hospitais deste
Brasil afora como colegas de profissão. “Medicina, só não passa quem desiste.”
Força. Foco. Fé!
Obrigada pelo post Matheus. Estou tentando medicina através do enem pela quarta vez e, mesmo nos dias difíceis que parece dá tudo errado, pessoas como você nos motiva. E fico ainda mais feliz porque estou seguindo um cronograma de estudos idêntico ao seu.
ResponderExcluirE as aulas do descomplica como acompanhava?
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
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