A energia é essencial para qualquer forma de vida debaixo desse nosso
velho e cansado planeta. Fato indiscutível. Mas, mesmo após séculos de
desenvolvimento científico, é incrível pensar que não temos uma definição definitiva sequer para energia. Tá, tem aquele velho chavão: a energia não pode ser criada, não pode ser destruída. Mas, enquanto isso caracteriza, não define. A energia apenas é. Verbo intransitivo. O que pode acontecer é que a energia pode ser convertida de uma forma para outra.
Não
fosse por esse curioso sistema de conversão e pelas infinitas possibilidades de
transferência de energia, você não estaria lendo este texto. Por que não? O mais importante: suas células usam ATP. O ATP pode ser facilmente quebrado, é uma molécula instável. E essa quebra libera energia. Tal energia permite o trabalho das células que compõem todos os
tecidos do seu corpo. E daí que acontece a mágica daquilo que chamamos de vida.
E, no fim das contas, você está lendo isto através de um computador. Essa energia, se você
vive no Sudeste brasileiro, provavelmente vem das águas. Nas hidrelétricas, a
queda d'água aciona as turbinas. A energia da corrente de água é convertida em
energia mecânica. O motor hidráulico converte a energia mecânica em energia
elétrica, conduzida através de redes de alta tensão. A energia elétrica
transformada a partir da energia das quedas d'águas percorre um longo caminho
até chegar à sua tomada, mantendo seu computador ligado.
Parece
pouco, ainda assim? Pois, por favor, então imagine o seguinte cenário. A luz do
Sol (vinda da transformação de hidrogênio em hélio) viaja os 150 milhões de
quilômetros separando o Sol da Terra em incríveis apenas oito minutos. Você
pode pensar que muitas coisas são rápidas, como a bala de uma arma, ou um avião
Boeing a decolar. Mas nada chega perto da velocidade da luz. Você conseguiria dar 8
voltas na Terra em um segundo caso estivesse na velocidade da luz. E isso parece pouco se você não refletir sobre o significado dessas palavras. Deixe seus neurônios dispararem um pouco mais, usando bastante ATP. Pare de ler o texto e apenas reflita. Talvez o itálico deixe mais enfático. 8 voltas na Terra em um segundo.
É nessa
velocidade bizarra que a luz do Sol chega à superfície da Terra. E por aqui encontra,
por exemplo, muitas plantas. A maioria das plantas tem "antenas" para
a luz do Sol, a clorofila. A clorofila consegue absorver os fótons da luz do
Sol. Quer dizer, alguns desses fótons.
Abrindo
o jogo: a luz branca do sol, na
verdade, é uma coleção de outras cores (ela é policromática). Por algum motivo, a clorofila não se dá bem
com o espectro da cor verde. Então, ela absorve todas as outras cores - algumas mais, outras menos - e reflete o verde.

A luz do Sol chega às células das
plantas e estimula a clorofila. Por meio de um complexo conjunto de reações químicas, a energia eletromagnética irá ser transformado em energia química, que formará as ligações de moléculas de, por exemplo, glicose. É nas ligações
químicas da glicose que está, portanto, contida a energia vinda da bomba de
hidrogênio-hélio, o Sol. Essa energia irá viajar pela natureza, sendo
transferida de um nível trófico ao outro por meio das cadeias alimentares.
Ingerimos glicose em nossa
alimentação. Ao comermos o arroz, por exemplo, em um estado de hipoglicemia
(quando os níveis de açúcar no sangue estão baixos); nosso corpo irá
rapidamente digeri-lo Digerir é uma palavra por vezes empregada incorretamente. Significa absorver o que é útil para o
organismo após transformar os alimentos em pequenas moléculas. Ao percorrer um
longo caminho pelo tubo digestivo, o arroz será transformado (principalmente) em moléculas de
glicose. No intestino delgado, a glicose passa para capilares sanguíneos e, com
o auxílio do sangue arterial, chega à todas as células do corpo (junto do
oxigênio, outro produto da fotossíntese, que é também imprescindível para nossa
produção de energia).
Nossas células quebram a molécula de
glicose gradativamente. É um processo que só ocorre, como dito, por causa do
oxigênio - o comburente de uma reação química de combustão, em última análise. A energia liberada pela quebra da glicose é armazenada por moléculas
específicas e, ao fim do processo, é usada para transformar o ADP em ATP. É o
ATP nossa molécula energética - porque é facilmente quebrada e a energia, desse modo, aproveitada quando necessária.
Recapitulando: a conversão de hidrogênio
em hélio gera uma grande quantidade de energia, que viaja pelo espaço em forma
de ondas eletromagnéticas. Após oito minutos, essa energia chega à Terra,
excita a clorofila contida nos cloroplastos das plantas, iniciando várias
reações químicas que culminarão na formação de glicose. Por meio da cadeia
alimentar, essa mesma energia chega à nós em forma de comida, que é digerida
pelo nosso corpo até um nível microscópico. Nossas células cerebrais, que
dependem de um abastecimento constante de glicose, irão realizar respiração
celular. Através da respiração celular, energia, em forma de ATP, é produzida.
Essa energia é a que será usada nos impulsos elétricos necessários para ler esse texto e para que você atribua sentido a esses símbolos gráficos que aparecem na sua tela.
Pensemos
também a respeito dos combustíveis fósseis. Pensemos no petróleo, a joia
brasileira. O petróleo foi formado a partir da antiga
vida animal, isto é, partir da decomposição de organismos que viveram há alguns
milhões de anos. A partir da destilação fracionada do petróleo, conseguimos a
gasolina usada para nos levar de um lugar para o outro, com os meios de
transporte. Também movimentamos nossas indústrias e fazemos funcionar aparelhos
(quando não usamos mais limpos de energia, como a já citada hidrelétrica).
Então, ao
usarmos a gasolina para ir da casa à escola, estamos consumindo energia que foi
armazenada há milhões de anos. Não é só isso. Essa energia que faz com que o
carro tenha energia mecânica e energia cinética, é também a energia enviada
pelo Sol há milhões de anos, que foi processada pelas plantas, armazenada em
glicose, passada aos animais. O dióxido de carbono que sai dos escapamentos dos
carros veio da quebra de moléculas que não existiriam, não fosse a luz do Sol
ter chegado até a Terra uns 30 milhões de anos atrás. E a energia se conservou, como sempre se conserva. Mas, ainda assim, não sabemos como defini-la.
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